09 outubro 2019

Biratan Porto e suas deliciosas crônicas do livro Ora, mas tá!

Exibicionismos de erudição, sempre gratuitos e desnecessários, não são encontradiços nos textos do cronista Biratan Porto. Suas crônicas no livro Ora, mas tá! chegam aos leitores trilhando o caminho da simplicidade, despojadas de ludibriantes recursos linguísticos em que o supérfluo, desfavoravelmente, pudesse vir a prevalecer. Por aí começam as muitas riquezas contidas em suas crônicas exibidas nesse livro, frisando que essa dita simplicidade não é, digamos, simplesmente tão simples. Coisas aparentemente triviais para os mais desatentos transformam-se em um rico mote para as crônicas de Biratan. Quem haveria de adivinhar as reminiscências que podem se encerrar em uma prosaica folha de imbaubeira caída em uma calçada? As pessoas comuns, certamente, não. Passariam mil vezes por ela sem dela se darem conta. Até poderiam pisá-la, em seu desatento caminhar. Da via pública o cronista recolhe a folha e, extasiado, observa-a com atenção. Embevecido, termina por viajar por suas fibras e nervuras, transportando-se no tempo até sua infância em Castanhal, em uma jornada sentimental que também arrebata a nós, seus leitores, e lá vamos nós com ele. Cada crônica de Biratan nesse seu livro é um périplo a nos conduzir por emoções de todas as grandezas, por reflexões existenciais oriundas dos mais improváveis recantos, por grandiosidades narradas com rara sutileza. Seus textos, em alguns momentos, por vezes se fazem acompanhar de uma leve ironia ao abordar instantes da vida em que vigora o inesperado, as reviravoltas da existência, o errado sobrepondo-se ao correto. A criatividade do cronista se faz onipresente, o seu olhar prima pela busca do insólito, do pitoresco, do inédito, do risível, seja relatando a vida de um incorrigível conquistador e suas pretendentes, seja mostrando um delegado chegado a excessos arbitrários, mas chegado muito mais ao sambista Geraldo Pereira. Seja, ainda, narrando os detalhes de uma imponderável corrida de galinhas ou mesmo expondo as angústias de uma kafkabirataniana barata e sua luta para salvar de trágico holocausto suas irmãs e todo seu povo. As crônicas de Biratan não deixam espaço para a dor, melancolia ou tristeza. Nelas sempre se faz visível o tom positivo, para cima, comprovando que o autor acredita que o ser humano, malgrado seus equívocos, pode se fazer viável e experimentar a felicidade no planeta que habita e viver em harmonia com os seus semelhantes. Tudo isso se nos apresenta alinhavado pelo refinado humor desse inspirado cronista, Biratan Porto, um humor que ora nos chega de forma sutil, contida - e aí há que se ficar atento para não perder o riquíssimo sabor dessas passagens – e por vezes, esse humor se nos invade de forma histriônica e não há como conter uma gostosa e revigorante gargalhada.                                                                    *****Para os que querem experimentar o prazer de ler as crônicas de Biratan e as de seu partner, o também cronista Max Reis, que com ele divide as páginas desse Ora, mas ta!, devo dizer que esta edição está esgotada. Resta o consolo de saber que Biratan esta em vias de lançar um livro inedito de crônicas. Aguardemos.